'Memórias da Travessia' Museu Arqueológico do Fundão, aprovado pelo IBERMUSEUS

26.09.2020

O projeto 'Memórias da Travessia' do Museu Arqueológico Municipal José Monteiro, no Fundão, foi um dos 20 premiados pela 11ª edição do Prémio Ibermuseus de Educação, que contou com a participação de 210 projetos, sendo a única instituição museal portuguesa, no conjunto de projetos reconhecidos pela associação internacional Ibermuseus.
Como parte da equipa de concepção e realização do projeto, temos Moana Soto e Carlos Serrano: doutorandos em Museologia e bolseiros da Cátedra UNESCO Educação, Cidadania e Diversidade Cultural'. O projeto, nas palavras do seu coordenador Pedro Salvado, combina materialidades memórias e geografias das migrações de ontem e de hoje que confirmam que, em tudo, somos sempre passagem. A permanência é muito volátil. Um Museu deve também ser uma plataforma-ponte de reflexão continuada sobre o que fomos, o que somos e o que podemos e queremos vir a ser. Os objectos num Museu de Arqueologia nunca são estáticos são sempre matérias de interrogação. O projeto 'Memórias da Travessia' pretende acima de tudo religar. Às vezes um Museu une, mas deve saber sempre reunir, reunir as coisas, os tempos, as vontades, os sonhos, conclui Pedro Salvado. 
Foram premiados 20 projetos que abordam temas como património histórico e cultural, infância, igualdade de género, as migrações, culturas nativas, novas tecnologias, além da própria pandemia. A presente edição foi direcionada para a realização de projetos virtuais, em resposta à situação imposta pelo COVID-19, tendo sido recebido projetos provenientes de 13 países – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, México, Peru, Portugal e Uruguai. Todos os projetos serão incorporados no Banco de Boas Práticas do Ibermuseus, que atualmente conta com 240 iniciativas inovadoras.
 
Descrição do projeto: O projeto ‘Memórias da Travessia’ visa à construção de um arquivo virtual multimédia das memórias das migrações que tenham como origem ou destino o concelho do Fundão. Este concelho possui historicamente uma realidade de emigração, mas têm assistido nos últimos anos a chegada de levas de imigrantes e, de forma marcante, de refugiados, como os dezenove acolhidos, em 2018, provenientes do barco Aquarius. Inspirado na utilização da tecnologia social desenvolvida pelo Museu da Pessoa (Brasil), se quer construir, a partir do registo das memórias individuais, um acervo de memória coletiva das múltiplas comunidades e realidades (imigrantes voluntários, refugiados e emigrantes). Seguir-se-á para isto com as três fases desta metodologia: construção (e mobilização dos migrantes), organização (com a recolha de relatos e objetos que testemunham estes processos individuais) e a socialização destas histórias individuais e coletivas, através da disponibilização em site dos materiais, desde o referente ao registo de cada vivência, incluindo os objetos digitalizados dos mesmos, como por meio da sistematização através de exposições virtuais. Além disso, no processo de construção de mobilizará o recurso às rodas de conversa, parte da metodologia de Paulo Freire, de forma a gerar as palavras e objetos geradores que sirvam como orientadores das fases seguintes. Utilizar-se-á também a criação de redes sociais para a socialização e aproximação com o conjunto da população do Fundão (e pelas possibilidades da internet, à população mais ampla). Objetiva-se assim não só a preservação dessas memórias, mas fundamentalmente realizar uma ação educativa de construção para a paz e contra a xenofobia, valorizando a realidade de circulação dos povos e culturas como um elemento positivo, de cidadania, dignificando a diversidade cultural. Inclusive, contamos também com uma parceria com a Universidad de Salamanca (USAL) em relação ao estudo específico da emigração. Este projeto dá continuidade à preocupação desenvolvida pelo proponente Museu Arqueológico do Fundão, como a instalação ‘Parede da Memória’, apresentada no Dia Internacional dos Museus de 2020 e que abordou exatamente a integração dos refugiados. E, por isso, o primeiro grupo a ser abrangido nesta primeira fase será exatamente o dos refugiados, da fome e da guerra, pois são os que se encontram mais fragilizados em sua cidadania. Este projeto permitirá o recurso alargado à interatividade pela criação de website e redes sociais, com informações multimídias adicionais. As novas funcionalidades abarcarão recursos acessíveis e inclusivos, mesmo lingüisticamente, possibilitando o acesso ao público mais amplo. Desta maneira, estes espaços virtuais servirão como pontes inclusivas e espaços de encontro para as comunidades locais, emigrantes e imigrantes, mobilizando o espaço virtual como mais um espaço de preservação das memórias reais.
 
Equipa completa: Pedro Salvado (coord.); Alcina Cerdeira; André Motta Veiga; Angel Espina; Carlos Serrano; Helena Marujo; Joana Bizarro; Maria Beatriz Rocha Trindade; Martina Gomes; Moana Soto; Paula Pio; Patrícia Dorneles; Patrício Ramos; Pedro Mendonça; Raquel Guedes. 
 
 
 
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