Cadernos de Sociomuseologia vol-61, nº 17-2021 já está online

09.05.2021

Dossiê Corpos e Dissidências nos Museus e na Museologia

Este dossiê se dedica à investigação de um problema posto à estrutura da Museologia e dos museus: o tratamento de corpos e sexualidades presos à uma forma repetitiva e isonômica aos anseios conservadores cristão-europeu. Ou seja, os estudos aqui reunidos discutem a desconstrução daquilo que Judith Butler chamou de “matriz heterossexual”, uma ordem simbólica repetitiva que organiza a sociedade a partir dos corpos que importam e os que não importam (ver Butler, 2003, p. 38; Butler, 1993, p. 9-10; Prins; Meijer, 2002). Essa matriz produz as mais diversas violências epistemológicas, físicas e simbólicas no campo museológico. Dessas violências nascem corpos abjetos como os nossos, que por sua cor, gênero, classe ou sexualidade, são corpos atualmente esquecidos nos museus.

Nem sempre, contudo, “corpos abjetos” estiveram longe dos museus. No século XIX, o corpo de Saartjie Baartman, nomeada de “Vênus Negra”, ao lado dos “hermafroditas”, “invertidos”, “gigantes”, “homens-animais”, entre outros, eram expostos em vida e mesmo depois de mortos enquanto despertavam preocupações referentes à sexualidade. A tal ponto que esses corpos foram levados ao extremo da monstruosidade que terminaram sendo apagados dos museus e dos debates museológicos. 

Ao longo da história dos museus e da Museologia, esses “corpos abjetos”, quando apresentados, expostos e observados, foram, até o limiar do século XIX, traduzidos pelos detentores do poder da seleção e da produção da narrativa nos cenários museológicos. Corpos que foram sempre entendidos como “outros desviantes”, animalizados, pervertidos e traduzidos pela alteridade.

Este dossiê insiste que este passado pejado de colonialidade e etnocentrismo é fóbico, vergonhoso, está vivo e deve ser confrontado. A Sociomuseologia assim tem evidenciado ao longo de sua trajetória e desde o recente advento da “Museologia LGBT” (assim chamada em virtude do uso da sigla vigente no campo das Políticas Públicas).  Extrato do Editorial, Judite PrimoUniversidade Lusófona-Lisboa | Jean BaptistaUniversidade Federal de Goiás- Brasil | Tony BoitaMuseu das Bandeiras. Brasil

Conteudo:

Geanine Vargas Escobar - Por uma Museologia Lésbica Negra;                  

Jean Baptista – Entre o arco e o cesto: notas Queer of Color Critique sobre os indígenas heterocentrados nos museus e na Museologia;

Thainá Castro Costa F. Lopes, Renata Cardozo Padilha, Mayara Lacal Cunha Ladeia - Acervo e Diversidade: Em busca de novas metodologias de gestão de acervos;                         

Tony Boita - Museologia LGBT aplicada: uma experiência de gestão no Museu das Bandeiras;   

Jezulino Lucio Mendes Braga - Formação para a diversidade de gênero e ações de visibilidade da população LGBT em museus de Belo Horizonte;                        

Ana Paula da Silva - Narrativas trans em acervos de museus: diálogos com Élle de Bernardini e Lyz Parayzo;                       

Leonardo da Silva Vieira - “Papéis sexuais” no acervo do Museu Paulista;                   

Alex Padilha - Reflexões para uma Museologia positiva;

Resenha: Museologia LGBT Cartografia das memórias LGBTQI+ em acervos, arquivos, patrimônios, monumentos e museus transgressores -Autor Tony Boita.  Cristina Brun, Universidade de São Paulo - MAE/USP

 

 

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